Hortas urbanas: Cultivando uma cidade melhor

 A produção de alimentos dentro das cidades, através de hortas urbanas, vem se tornando uma atividade difundida em muitos municípios brasileiros. Dentre as características que implicam no sucesso dessa prática, podemos citar a busca por uma alimentação saudável, geração de renda e também a melhoria dos aspectos ambientais e dos espaços da cidade.

Segundo análise realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), entre 2011 e 2012, das 3.062 amostras de 25 culturas vegetais, em mais da metade foram encontrados “organfosforatos”, substâncias que podem destruir células musculares, comprometer o sistema nervoso e provocar problemas cardiorrespiratórios. Infelizmente nem sempre é possível acompanhar as etapas pelas quais os alimentos passam até chegarem à mesa. As hortas urbanas favorecem as práticas de cultivo aproximando o produtor ao consumidor final, incorporando práticas naturais ou orgânicas de cultivo e também preservando a qualidade e o sabor dos alimentos.

            Além de melhorar a qualidade alimentar, as hortas urbanas podem ser uma boa oportunidade de renda, como é o caso de Sete Lagoas-MG, onde mais de 300 famílias já se beneficiam do sistema, aliando cultivo agroecológico e inclusão social. Teresina é outro exemplo, cerca de 10 mil pessoas vivem direta ou indiretamente da produção de hortaliças, cultivadas nas 42 hortas distribuídas em 220 hectares. Além de embelezar a cidade, as hortas urbanas abastecem a maioria dos supermercados na capital do Piauí.

            A implantação de hortas urbanas melhora também os aspectos ambientais e de saúde da cidade. As áreas desocupadas, terrenos baldios e edificações abandonadas, tornam-se áreas de crescimento de mato e depósito clandestino de lixo e entulho, favorecendo o aparecimento de agentes transmissores de doenças como roedores e insetos.

Em Erechim-RS a Secretaria de Meio Ambiente orienta que seja efetuada a roçada dos terrenos baldios pelo menos três vezes ao ano, intensificando a ação entre os meses de setembro a maio, uma vez que o clima nestes meses favorece o desenvolvimento da vegetação. Aponta também que todo o lixo depositado sobre o terreno é de responsabilidade do proprietário do imóvel que deve providenciar a destinação adequada para o mesmo.

Todos os anos, em Erechim, muitos proprietários de imóveis urbanos são multados devido as condições de abandono do seu terreno. Somente em janeiro desse ano, a Secretaria de Meio Ambiente realizou 145 vistorias e emitiu 70 notificações. A legislação municipal prevê para esses casos uma multa de 320 URM´s (Unidades de Referência Municipais), ou seja, R$1.049,60.

A transformação de lotes vazios em hortas urbanas é uma prática incentivada pelo poder público, pois apresenta inúmeros benefícios para toda a rede que envolve o sistema de hortas urbanas, os produtores, os proprietários dos imóveis, além do próprio poder público municipal. Os produtores urbanos ganham com a qualidade da alimentação, com o contato com a terra e sistemas de cultivo ecológicos, a prática de atividades físicas, o resgate das relações de vizinhança e uma nova oportunidade de renda. Os proprietários dos imóveis ganham na economia com a manutenção e limpeza dos lotes, evitam acúmulo de lixo, o aparecimento de doenças e melhoram a segurança do imóvel. O poder público municipal ganha com a melhoria na segurança alimentar, no embelezamento da cidade, na redução de gastos com a fiscalização e notificação dos imóveis desocupados, e ainda economiza em futuros gastos com a saúde pública, trabalhando de forma preventiva à transmissão de doenças.

Cartilha de Hortas Urbanas:

http://polis.org.br/wp-content/uploads/Hortas-Urbanas-FINAL-bx-site.pdf

Em 2015, o estudante de arquitetura e urbanismo Deloan E. Mattos Perini, foi premiado com o 1º Lugar no Prêmio Jovem Cientista com o desenvolvimento de um “Modelo de agricultura urbana para cidades de pequeno porte”, sob a orientação da profª. Drª. Marcela Alvares Maciel. O trabalho foi desenvolvido a partir do contexto da cidade de Erechim, com o objetivo de transformar lotes baldios em espaços produtivos dentro da cidade.

            No final do mesmo ano, através de uma parceria entre a Universidade Federal da Fronteira Sul e a Prefeitura Municipal de Erechim, foi instituído o projeto de extensão “Projeto Piloto de Agricultura Urbana para Erechim” como uma resposta à repercussão vinda com o prêmio nacional e com o objetivo de viabilizar a implantação do sistema de agricultura urbana na cidade.

 Veja o documentário da revista Época:

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/08/agricultura-urbana-para-dar-cara-nova-cidades.html