Prefeitura Municipal de Erechim - Mãe reencontra filha desaparecida há 35 anos
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22/10/2010

Mãe reencontra filha desaparecida há 35 anos

Mãe reencontra filha desaparecida há 35 anos

 

Um trabalho realizado pela equipe do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), vinculadoPrimeiro contato: Angelita beija a me. Juntos os irmos Luiz Carlos (de bon) e Carlos (acompanhado da esposa) - Foto Laone Amaral ASSECOM PME à Secretaria Municipal de Cidadania, resultou em um final feliz para a família Andres, em Erechim. A partir da solicitação do CREAS da cidade de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, foi possível localizar Angelita Fátima Andres, 41 anos, desaparecida há 35 anos. A família diz que ela teria sido raptada e até temia que estivesse morta. O reencontro cheio de emoção com a mãe e os irmãos aconteceu na tarde desta sexta-feira, 22, na Sociedade Beneficente Jacinto Godoy – Lar dos Velhinhos.

Angelita e três dos seis irmãos choraram abraçados à mãe Maria Andres (conhecida como "Maria Polenta", por algum tempo. Em uma caderia de rodas e com dificuldades na fala, a idosa de 80 anos expressava no rosto e gestos a alegria de reencontrar a filha, que havia desaparecido aos 5 anos, juntamente com o irmão Carlos Sérgio Andres, este com 10 anos, entre os anos de 1973 e 1975.

 

Como tudo começou

De acordo com o corpo técnico do CREAS – Erechim, no dia 23 de agosto chegou um e-mail do CREAS de Aquidauana MS pedindo informações sobre uma menina que havia sido raptada provavelmente entre os anos de 1973 e 1975 em Erechim.

O ofício informava que Angelita estava residindo naquele município e afirmava ter sido raptada aos cinco anos. Ela contou ser de Erechim e lembrar do chafariz na praça central da cidade e de morar perto do cemitério. A mobilização do CREAS foi grande, com busca em registros na delegacia de polícia, cartório de registro, dentre outros órgãos, mas nada foi encontrado. O caso começou a se resolver com o encontro de uma vizinha, Nedir Giacomelli. Ela confirmou saber da história do desparecimento das crianças, pois ser a família Andres vizinhos próximos. Carlos foi encontrado e não mediu esforços para buscar Angelita no Mato Grosso. "Acabou um sofrimento de 20 anos. Eu não tinha sossego até não encontrar a minha irmã", festejou.

 

Uma história de sofrimento

Juntando relatos da vizinha, do próprio Carlos e de Angelita, aos poucos, é possível unir as partes dessa história de sofrimento. Segundo eles, as duas crianças teriam sido raptados por um homem chamado Mário da Silva, que hoje estaria detido no presídio de Charqueadas. Os dois moravam com a mãe em uma das áreas mais pobres de Erechim, então conhecida como "Cachorro sentado" (hoje Vila Laguna, no Bairro Bela Vista). "Eu lembro da Maria noite e dia atrás da menina", recordou Nedir. Na sua avaliação, a mãe não teria registrado o desaparecimento dos filhos por medo de represálias de marginais que viviam no local.

Carlos contou que foram levados para Cascavel, no Paraná, onde passaram a perambular pelas cidades. Ele brigou com o homem e conseguiu fugir, desde então perdendo de vez o contado com a irmã. Ele sobreviveu pelas cidades e ruas até os 14 anos, quando conseguiu voltar para Erechim, com uma carona.

Angelita chora não só por lembrar a separação da família aos seis anos, mas sobretudo de todo o sofrimento que passou a enfrentar desde então. Falou do abuso físico e moral, do terror que viveu por semanas e semanas ao lado lado do homem que a levou, "um bandido", conforme descreve . Ela disse ter presenciado inúmeras cenas que acabaram em morte na sua frente. "Ele matava as pessoas, tudo junto comigo", contou, logo depois de trocar longos abraços com a vizinha Nedir.

A menina também acabou apanhando, tanto que foi socorrida ao hospital, conforme ela "toda quebrada". Era a sua salvação. A polícia prendeu o homem e a garota foi conduzida para um orfanato em Cascavel - PR.

De lá, o destino lhe reservou o abrigo na casa de uma família em Aquidauana, onde alega também ter sido obrigada a servir como empregada e a "servir" sexualmente a um dos membros, situação que resultou em gravidez. "Ele matou a criança", afirma sobre o homem que conta "ter cuidado". Não aguentando a situação fugiu. Acabou indo morar com um peão que lá trabalhava por perto. Nesse tempo, Carlos reclama ter buscado de todas as maneiras apoio para encontrar a irmã, mas não tido respaldo dos órgãos competentes na época.

O desfecho da vida de Angelita foi um novo casamento, dois filhos, com 19 e 24 anos e a viuvez. Sobrevive até então trabalhando como manicure. Um problema com o filho menor, que afirmou ter "idade mental de criança e ter se envolvido com uns moleque da rua". Foi por causa deste fato que ela foi chamada ao CREAS de Aquidauana. A cobrança de sua identificação foi que levou ao desfecho que resultou no reencontro com a mãe e o restante da família.

Abraçada à dona Maria, disse que pretende vir com os filhos morar em Erechim para cuidar dela, internada no asilo há quase um mês. " Isso é o que eu mais quero agora", encerrou.